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O que a emigração ensina sobre "isto de ser eu"

É curiosa esta experiência de viver fora do país onde cresci, de estar num local desconhecido, que não reconheço nem percebo. Não percebo os costumes, não percebo as rotinas, não percebo a natureza, não percebo a forma das pessoas serem. Sinto-me a existir num elemento que não é o meu.


Sinto-me sem raízes, sem saber onde ou de que forma me encaixo aqui.


Quando regresso a Portugal todo o meu corpo relaxa e suspira de alívio. Afinal, neste espaço eu conheço-me, eu sei existir. Quem fui está inevitavelmente associado aos espaços onde cresci. As minhas memórias são um emaranhado de mim, da minha família, dos meus amigos, dos meus valores, dos meus sonhos, e também, dos cheiros, das paisagens, do clima, da língua, e da cultura de Portugal. Associo-me a Portugal, porque eu sempre fui em Portugal. Agora estou a ser num país que me é estranho, num país infinitamente plano, que foi artificialmente conquistado ao mar. E aqui, não sei quem sou.


Que interessante não saber quem sou. Não me conseguir definir. Por vezes, sinto-o como algo imensamente angustiante. Outras vezes, é profundamente libertador.

Não me sinto concreta, mas algo fluido que constantemente se adapta ao que está à sua volta. Não tenho uma forma específica, pois estou em constante mutação. Como o vento. Ou como a água. Atenção, isto não é algo lógico, mas sim um conhecimento baseado no sentir da minha própria natureza e textura – no como eu me sinto eu. No entanto, a mente lógica diz-me que isto de não ter forma é desestruturante.


Contudo, é quando me sinto mais fluída que me sinto mais estável. É quando aceito as contínuas mudanças na minha vida que me sinto mais enraizada. Mais presente, aqui – onde quer que eu esteja. É quando desisto de me dar uma forma, quando desisto de saber quem sou, que me sinto mais eu. É quando deixo de controlar que me sinto sob o controlo.

Poderá a não forma ser, em si, uma forma?

Que curioso. Isto de me permitir ser.




Psicóloga Clínica RUMO

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